O papel do Jornalismo: uma chamada à responsabilidade

Nós, pesquisador_s e professor_s vinculad_s a este Observatório da Mídia, lamentamos acompanhar cotidianamente a forma como os princípios éticos, teóricos e técnicos do Jornalismo têm sido desrespeitados em “telejornais” [não excluindo as mídias impressa, radiofônica e online]. A divulgação de imagens e relatos de pessoas em situação de vulnerabilidade, construídos em narrativas com a mera intenção de espetacularizar as tragédias humanas, camuflado no discurso de que “é isso que o público quer ver”, é algo que condenamos nas reflexões, pesquisas e ações deste Observatório; e diariamente nas aulas dos cursos de graduação e mestrado em Comunicação da Universidade Federal do Espírito Santo.

Por dois anos seguidos, oferecemos, em parceria com o Conselho Estadual de Direitos Humanos e o Sindicato dos Jornalistas, o curso de extensão “Capacitação de jornalistas para o respeito e a promoção dos direitos humanos”; e nos surpreendeu a baixíssima adesão de profissionais, bem como o desinteresse de empresas de mídia na participação e divulgação da iniciativa. O resultado é este que vemos: uma contínua agressão aos direitos fundamentais, com a banalização de situações como o extermínio de jovens, crimes contra mulheres, exposição de crianças, desumanização de pessoas detidas e refugiadas, ridicularização de homossexuais, estereotipização de periferias, bravatas de autoridades de “segurança”, abusos sexuais, entre tantos outros desrespeitos. O problema está, principalmente, no COMO tais temáticas têm sido (mal)tratadas.

Já passou da hora de uma profunda reanálise do papel do Jornalismo, não apenas em torno de notícias falsas, mas sobre a forma COMO fatos verdadeiros têm sido narrados. O objetivo e a função social do Jornalismo são de promover avanços e transformações na sociedade, colaborando para que haja o máximo de pontos de vistas na fundamentação da opinião pública. Mas a cobertura jornalística da forma como tem sido feita, contribui apenas para a manutenção ou piora do estado das coisas.

Como pesquisador_s e professor_s temos muito a refletir sobre nossa responsabilidade na formação de tais profissionais. Mas convidamos tod_s jornalistas a uma profunda autocrítica sobre seu papel. Também as empresas de mídia – concessões da União -, que pensam mais em seus faturamentos comerciais do que na prestação de serviço público. Anunciantes e agências de publicidade também têm sua parcela de culpa, pois são quem financiam tais programas e programações.  E o convite para este amplo debate e reflexão se estende também a_s espectador_s, que criam a equivocada ilusão de que gostam desse tipo de conteúdo.

A culpa é de tod_s nós. Os caminhos da intolerância, desigualdade, desrespeito, violência e ignorância se mostram com muita facilidade. Cabe a nós a mudança deste quadro, enquanto ainda temos opções.

 

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